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terça-feira, 16 de agosto de 2011

O EVANGELHO SEGUNDO JOÃO


INTRODUÇÃO AO  EVANGELHO SEGUNDO SÃO JOÃO

            O Quarto Evangelho, a princípio tem a mesma estrutura dos Evangelhos Sinóticos: inicialmente mostra o testemunho de João Batista sobre Jesus, depois apresenta várias passagens e acontecimentos da vida de Cristo, e termina com os relatos de sua paixão, morte e ressurreição.
 No entanto destaca milagres ou aspectos da pregação de Jesus que não são relatados pelos Sinóticos: o início da vida pública de Jesus nas bodas de Cana; a ressurreição de Lázaro; o lava pés; a questão do paráclito; o longo discurso sobre o pão da vida que vem após a multiplicação dos pães; é o único a apresentar as três grandes festas judaicas; Jesus toma posse da fórmula “Eu sou”, que é própria de Deus. O evangelho segundo João é o evangelho mais puro, o mais radical, o mais teológico, com uma cristologia mais desenvolvida que se preocupa em apresentar a divindade de Cristo.
Para o povo judeu do AT a fé está na lei de Moisés, no culto centrado em Deus efetuado no templo, João vai colocar o eixo em Jesus. Jesus é a Lei, Jesus substitui o templo e a fé está na pessoa de Cristo.
1. O Autor
A tradição antiga da Igreja identificou a autoria deste evangelho como sendo de João o discípulo amado de Cristo. “Este é o discípulo que dá testemunho dessas coisas e foi quem as escreveu: e sabemos que o seu testemunho é verdadeiro” (21,24).
Santo Ireneu de Lião (+/- 125/140 dC) é o autor mais antigo que afirma a autoria do quarto evangelho à João: “Em seguida, o discípulo do Senhor, o mesmo que repousou sobre o seu peito, publicou também o evangelho durante sua estada em Éfeso”.
2. A data
Provavelmente no final do primeiro século, entre os anos 90 e 100 dC, na localidade de Éfeso.
3. Destinatário
Diferente dos evangelhos sinóticos que tem um destinatário concreto:
Mateus
Marcos
Lucas
João
Judeus
Romanos
Gregos
pagãos

O Evangelho de João tem um destino universal, pois escreve não para uma comunidade específica, mas para todas as comunidades cristãs.
4. Objetivo de João
O propósito de João é inspirar nos leitores a fé em Jesus e está claro nas conclusões finais do capítulo 20,30-31:
a) Crer que Jesus é o Filho de Deus
b) Para ter vida
5. Particularidades de João
1. João usa de um material especial para desenvolver seus escritos, possui bons conhecimentos históricos e topográficos.
2. João não está preocupado em mostrar um Jesus “histórico” do ponto de vista moderno, mas seu interesse é levar o leitor, pelos olhos da fé, a raiz dos acontecimentos.
3. Comparando as parábolas vivas e cheias de sinais dos sinóticos com os discursos profundamente teológicos de Jesus no evangelho de João mergulhamos numa realidade onde ele procura revelar as verdades mais secretas e divinas.
4. Enquanto os Sinóticos proclamam o Reino de Deus ou o Reino dos Céus no escrito joanino a grande revelação é o próprio Jesus.
5.1 - “Eu Sou”
A fórmula “Eu Sou” como a vemos no livro do Êxodo quando Deus se apresenta a Moisés dizendo “Eu sou aquele é”, é própria do Criador, no entanto Jesus toma posse desta expressão para auto-definir-se:
6,35
 “Eu sou o pão da vida”
9,5
 “Eu sou a luz do mundo”
10,7-9
 “Eu sou a porta”
10,11-14
 “Eu sou o bom pastor”
11,25
 “Eu sou a ressurreição”
14,6
 “Eu sou o caminho, a verdade e a vida”
15,1
 “Eu sou a videira”

5.2. Os sinais-milagres de Jesus
As Bodas de Caná
2,1-11
Cura do filho do funcionário real
4,46-54
Cura do enfermo na piscina de Bezata (Betesda)
5,2-18
Multiplicação dos pães
6,5-14
Cura do cego de nascença
9,1-16
Ressurreição de Lázaro
11,1-44
Ressurreição de Jesus
20,11-18


5.3. Eucaristia
Para os Sinóticos Jesus instituiu a Eucaristia na quinta-feira santa. João coloca na quinta-feira o relato do lava-pés, para dizer que a Eucaristia deve levar à um gesto concreto, mostra Jesus como aquele que serve, como escravo (diakonia em grego = serviço). Para João a Eucaristia se dá no capítulo 6,11 (multiplicação dos pães) onde o que importa e dar graças e distribuir.
5.4. Jesus é o templo
Os Evangelhos Sinóticos narram a expulsão dos vendilhões do Templo como acontecida na última Páscoa, no final do mistério de Jesus.
Para João este fato está na primeira Páscoa (2,13ss), quando Jesus começa a pregar, pois para encontrar Deus o lugar não é mais o Templo, mas a própria figura de Jesus. A partir de agora se adora em Espírito e Verdade.
5.5. As Festas Judaicas
Os Evangelhos Sinóticos não têm interesse pelas festas Judaicas, e com referência a Páscoa, sua principal festa, apresentam apenas a passagem de uma Páscoa que se dá no último ano do Ministério de Jesus.
O Evangelista João mostra que conhece profundamente a cultura judaica, apresentando no ministério de Jesus três Páscoas (três anos de vida pública), além das outras principais festas Judaicas, como o Pentecostes, Tendas e a Festa da Dedicação.
1ª Páscoa: Jo 2,13-22:  acontece após o início de seu ministério com as bodas de Cana.
Festa de Pentecostes: Jo 5,1, embora o texto não revele que era pentecostes, subentende-se por que se dá logo após a descrição da primeira Páscoa. (Pentecostes em grego significa qüinquagésimo, é a festa da colheita ou das primícias realizada pelos judeus cinqüenta dias após a Páscoa).
2ª Páscoa: Jo 6,4:  é a Páscoa precedida da multiplicação dos pães.
Festa das Tendas ou Tabernáculos: Jo 7,2, recordava os quarenta anos de permanência do povo no deserto quando saíram do Egito.
Festa da Dedicação: Jo 10,22, dedicação ou purificação do Templo que havia sido profanado no ano 200 aC.
3ª Páscoa: Jo 11,55; 12,1 e 13, 1, é a Páscoa da morte e Ressurreição de Jesus, esta é apresentada pelos quatro evangelistas.
Com este estilo teológico de escrever João quer mostrar que com a vinda de Jesus termina o culto antigo representado pelas festas e pelo Templo. O novo Templo agora é Jesus e a Ele se deve o culto, este é o sentido da vida de Cristo.

5.6. Jesus é o Logos
Para os Sinóticos a divindade de Jesus vai se revelando aos poucos.
João apresenta Jesus desde o princípio como o messias o filho de Deus (1,1-2.14).João ainda usa a palavra verbo para dar dinâmica a Jesus.
5.7. Títulos de Jesus
Mateus
Marcos
Lucas
João
Emanuel
(1,23 – 28,20)
Filho de Deus
 (1,1 – 15,39)
não há título específico mas Jesus é o possuído pelo Espírito Santo
Cordeiro de Deus
(1,29 – 19,36)

5.8. O discípulo que Jesus amava
A expressão “o discípulo que Jesus amava” aparece em João cinco vezes, isto é um fato enigmático:
1. no anúncio da traição (13,22): “Estava à mesa, ao lado de Jesus, um de seus discípulos, aquele que Jesus amava”;
2. aos pés da cruz (19,25-26): “Perto da cruz de Jesus permaneciam de pé sua mãe, a irmã de sua mãe, Maria mulher de Cléofas, e Maria Madalena. Jesus, então, vendo sua mãe, e perto dela, o discípulo a quem amava”;
3. no sepulcro (20,2): “Maria Madalena...corre, então e vai a Simão Pedro e ao outro discípulo, que Jesus amava”;
4. reconhece Jesus a beira do lago de Tiberíades (21,7): “Aquele discípulo que Jesus amava disse então a Pedro: É o Senhor”.
5. Pedro vê o discípulo (21,20): “Pedro, voltando-se, viu que o seguia o discípulo que Jesus amava”.